Sunday, February 21, 2010

Já fui bailarina, dessas vestidas de tule e collant. Já subi nas pontas, já me aqueci na barra, já enrolei todo meu cabelo num coque apertado e enfeitado, já subi num palco e dancei. Mas isso faz tempo. De todas as coisas que poderiam ter ficado, o que sobrou foram algumas fotografias e as minhas sapatilhas. Guardo numa gaveta e vez ou outra dou uma espiada, como que para garantir que ainda estão lá. Quando ninguém vê, coloco de novo nos pés e rodopio. Com elas já fui cor, já fui moleque, já fui pássaro e melindrosa.
Ainda sou bailarina; só não convencional. No tecido acrobático, no meio-fio, no parapeito da janela, na cadeira, na varanda. Ainda tenho a calma antes de dar o primeiro passo e a consciência de uma escorregada. Ainda ergo a cabeça quando a música começa a tocar. Guardo comigo a postura e a habilidade (conquistada a duras penas) de sorrir pelos olhos. Agradeço os aplausos e compreendo as más críticas. Sou bailarina na vida.

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